Movimento Vez&Voz atrai a atenção de empresas e entidades de todo o Brasil

Iniciativa que estimula a entrada de mulheres no transporte rodoviário de cargas atrai a atenção de cada vez mais empresas e entidades em todo o Brasil. Atualmente, o Movimento Vez&Voz, criado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São Paulo e Região (SETCESP), conta com mais de 65 empresas e instituições atuantes de todo o Brasil.

A coordenadora da comissão do Movimento Vez&Voz, Camila Florencio, comenta a iniciativa e as conquistas alcançadas até o momento. Para ela, é importante “ter um resultado positivo, não só da quantidade de mulheres no TRC, mas também da qualidade da posição dessas mulheres”.

Frota&Cia: O que é o Movimento Vez&Voz e o que motivou a iniciativa?
Camila Florencio: O Movimento Vez&Voz nasceu da experiência da Ana Jarrouge, que é a nossa presidente executiva do SETCESP, de muitas vezes ser a única mulher nas reuniões das entidades. Ela vem de uma família de transportadores onde já vivenciava essa questão. Então, a idealizadora do movimento é a Ana Jarrouge. O primeiro passo do Movimento Vez&Voz, quando ainda era um projeto, foi entender o que faríamos para ampliar o número de mulheres no setor de transporte que ainda é muito pequeno, mas não tínhamos dados, nenhuma informação, então por onde começar? Em 2020, fizemos a primeira pesquisa que, anterior ao lançamento do movimento, foi o ponto de partida para entender qual era a percepção das mulheres que trabalhavam no setor do transporte rodoviário de cargas, o que elas esperavam, qual era o perfil dessas mulheres e para a nossa surpresa em 10 dias recebemos mais de 700 respostas. Ainda é a pesquisa recorde que temos no SETCESP, o movimento nasceu dentro da entidade, e a partir daí tiramos uma série de impressões e começamos a entender qual era a percepção dessas mulheres.

Frota&Cia: O que o movimento pretende mudar no setor?
Camila Florencio: De uma forma geral, entendemos que essas mulheres estavam essencialmente trabalhando nos setores administrativos. Quando falamos de posições de liderança, essas mulheres estavam, principalmente, na posição de liderança inicial, encarregadas, supervisoras, no máximo uma coordenadora. Tínhamos poucas mulheres na operação e alta liderança. Quando falamos de cargos de gerência, diretorias vai afunilando essa pirâmide. A maioria delas eram lideradas por homens e elas tinham uma percepção positiva do setor no sentido de acreditar que o setor tem oportunidades de crescimento profissional, que elas se sentiam preparadas para agarrar essas oportunidades, elas queriam crescer dentro do setor de transporte. Por outro lado, essas mulheres não se sentiam ouvidas e nem valorizadas, não tinham a sensação de que as oportunidades eram as mesmas, quando falamos de um homem e uma mulher em uma posição, e o pior disso tudo é em relação a remuneração, elas não se sentiam remuneradas igual a um profissional homem na mesma função. Ao mesmo tempo que tínhamos muitas mulheres querendo crescer no setor, não tínhamos um ambiente favorável para que isso acontecesse. A partir dessas percepções formatamos o primeiro escopo do movimento que era contar as histórias das mulheres que trabalham no setor como forma de inspiração para mostrar para quem trabalha no setor que é possível crescer. Atrair novas mulheres para o setor de transporte como forma de ampliar esse número e começar a abrir a conversa com transportadoras para entender essa realidade.

Frota&Cia: Quem está por trás do movimento?
Camila Florencio: Em 2022, já com vacinação, retorno do presencial, conseguimos fazer nosso primeiro encontro presencial, que aconteceu na sede do SETCESP, em março de 2022. A partir desse encontro presencial sentimos a necessidade de estar mais próximos dessas transportadoras. Então criamos a comissão de mulheres, comissão técnica do Vez&Voz, onde nos reunimos mensalmente com representantes das empresas signatárias para debater assuntos que vão desde legislação, cases, espaço para compartilhamento de boas práticas, a cada reunião temos uma temática. Depois do encontro, tivemos uma procura ainda maior de empresas querendo fazer parte de tudo isso. Em maioria a demanda vem de empresas que têm mulheres na diretoria, mulheres empresárias, sócias das empresas ou via RH. Em alguns casos, o setor de qualidade, diversidade, ESG.

Frota&Cia: Só mulheres participam das reuniões?
Camila Florencio: Não, os homens também. Estamos aqui para discutir equidade, então em algumas empresas o responsável por sustentabilidade ou RH é um homem e participa das reuniões, discute as demandas conosco. A maioria dos participantes são mulheres, mas também temos vários homens, não é restrito a mulheres.

Frota&Cia: Você sente diferença na postura das empresas em relação ao tema?
Camila Florencio: Em 2023, fizemos aproximação com diversas entidades do setor, porque até então, somente participavam empresas que estavam na base do SETCESP. E percebemos que essa demanda é geral do setor (mulheres no TRC), como fomos pioneiros, percebemos que não podíamos manter limitado às empresas de São Paulo. Abrimos participação para empresas e entidades de todo o Brasil, mais de 65 instituições participam do movimento como signatárias.

Frota&Cia: O que impulsionou a entrada e procura dessas empresas e entidades?
Camila Florencio: A NTC&Logística nos cedeu um espaço para estarmos presencialmente na Fenatran e isso foi um marco para o movimento, porque tivemos a oportunidade de materializar a nossa existência. Nessa uma semana de feira conhecemos muitos transportadores e fornecedores e tivemos um crescimento exponencial. Durante o evento lançamos o Guia de Boas Práticas, totalmente gratuito, que reúne as boas práticas das empresas que são signatárias e fomos buscar outras práticas relacionadas a equidade também, fora do setor de transporte. Acabamos de voltar da Transposul com muitos contatos de empresas que querem participar, então estamos em um crescente de ações. Sabemos que ainda tem muito a ser feito em prol da equidade de gênero. Em março deste ano lançamos o Índice de Equidade, que também foi desenvolvido pela comissão, juntamente com o IPTC, que desenvolveu a metodologia com base em tudo que foi colocado como necessidade. Nesse índice avaliamos sete pilares, entre eles a questão do assédio moral e sexual no trabalho, que apareceu na pesquisa de 2020.

Frota&Cia: O que você sente que ainda vai mudar no setor e que pode ter um resultado concreto em breve?
Camila Florencio: As empresas estão passando por um impulso do mercado para questões voltadas ao ESG. Alguns anos atrás, o ambiental era o que ditava esse ritmo, a governança em segundo e acho que agora tem se debatido muito a questão da diversidade nas empresas. E não só por uma cota, mas porque as empresas começam a perceber que com pessoas diferentes chegam a resultados melhores. Com todas as empresas que conversamos e quando falamos, por exemplo, de mulheres motoristas, elas afirmam que a mulher é mais cuidadosa, atende o cliente com maior qualidade, cuida melhor do veículo, tem menos infração de trânsito, cumpre a jornada, tem maior produtividade. Isso é um ciclo positivo, porque uma empresa compartilha, a outra entende que isso funciona. As empresas estão se abrindo para isso e o embarcador também, tenho relatos de transportadoras que dizem que isso também vem do embarcador.

Frota&Cia: Já é possível falar em resultados desde que o movimento começou?
Camila Florencio: Começamos a falar em resultados efetivos, com dados, a partir do ano que vem, quando fizermos a segunda rodada do índice. Mas, como percepção, sim, justamente por essa abertura das empresas. É muito legal porque dentro da comissão as empresas compartilham suas experiências. A melhoria passa por uma questão de conscientização, tanto das empresas se abrirem para a diversidade quanto inverter o olhar na hora de uma contratação. Uma promoção, se sair da questão da vaga do gênero e olhar para a competência. Sempre coloco essa pergunta para os signatários “vocês estão procurando um motorista homem, ou um motorista?”.

Frota&Cia: O que você espera para os próximos anos com a iniciativa?
Camila Florencio: Ter um resultado positivo, não só da quantidade de mulheres no TRC, mas também da qualidade da posição dessas mulheres. Desde a operação, até o conselho. E que o Vez&Voz também seja porta de entrada para outras minorias, além de proporcionar que as empresas tenham resultados melhores.

Fonte: Frota&cia – https://frotacia.com.br/movimento-vezvoz-atrai-a-atencao-de-empresas-e-entidades-de-todo-o-brasil/