Lauro Valdívia explica o que leva à quebra das empresas do TRC

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Uma pergunta recorrente em minhas palestras é qual é o maior problema do setor de TRC (Transporte rodoviário de cargas)?  Esta é uma pergunta difícil de responder, já que este setor tem muitos problemas. Alguns são comuns às empresas brasileiras, como a alta carga tributária e a excessiva burocracia fiscal e contábil, que acabam gerando multas, processos eternos, inadimplência, passivos e incertezas quanto ao futuro. 

Mas não são desses problemas que estamos falando. O objetivo é conferir se é possível identificar a “mãe” dos problemas, o mais grave, o que traz maior consequência, aquele que efetivamente quebra a empresa de transporte. 

Antes de iniciar a avaliação, vamos listar algumas dificuldades que vêm à cabeça quando se pensa no transporte rodoviário de cargas (TRC): 

  • Frota velha → idade média de quase 14 anos 
  • Alto índice de roubos 
  • Mercados desbalanceados → viagens vazias/baixa ocupação 
  • Fretes baixos – historicamente 
  • Poucos fornecedores → quase todos oligopólios 
  • Barreira de entrada baixa 
  • Mão de obra pouco qualificada → baixa remuneração 
  • Baixa produtividade → pouca ocupação e número de viagens por mês 
  • Infraestrutura precária → custos operacionais altos 
  • Alto índice de acidentes → custo alto 
  • Inúmeros concorrentes e clientes muito maiores que os transportadores → poder de negociação baixo   
  • Custo do principal insumo é vendido em regime de monopólio – combustível da Petrobras. 

Como se nota, não é necessário refletir muito para elencar algumas situações difíceis enfrentadas por empresas que se propõe a fazer transporte no Brasil. Isto porque não entramos na seara da infraestrutura disponível ou mesmo da falta dela. Só para se ter uma ideia, no Brasil, somente 5% das vias estão em bom ou ótimo estado: 87% não são pavimentadas e das 13% pavimentadas aproximadamente 40% só estão em bom ou ótimo estado de conservação. 

E as dificuldades não param por aí: quando entramos na área da segurança, a situação não melhora muito. 

 O número de registros de ocorrências de roubos de carga vem caindo no Brasil nos últimos anos (o que não está claro ainda é se é uma tendência ou apenas uma oscilação nos números). É o que se constata ao analisarmos o estudo feito pela Associação Nacional do Transporte de Cargas & Logística (NTC&Logística). No entanto, o cenário preocupa, pois o patamar ainda é muito alto. Os prejuízos, segundo o estudo, somam R$ 1,2 bilhão. E o investimento das empresas transportadoras em sistemas para reduzir o número de roubos já chega a comprometer, em muitos casos, de 12% a 14% do faturamento o que encarece os produtos, pois este custo é repassado ao consumidor final. 

Mas apesar de esses serem alguns dos problemas enfrentados pelo transportados, pode-se afirmar qual deles pode ser considerado o mais grave de todos. Como já foi dito, esta não é uma tarefa fácil de ser respondida, mas a intenção aqui é que seja feita uma reflexão sobre o assunto. 

O maior problema do setor de TRC 

Diria que o maior problema do TRC é o frete baixo. A conclusão deriva, em última análise, de que todos os demais decorrerem dele – as exceções ficam para os problemas de gestão do governo (infraestrutura e segurança pública). 

Caso se admita que o frete baixo é o maior problema do TRC, surgem outras questões: por que se admite ou se aceita um frete baixo? Por que há empresas transportadoras que pagam para trabalhar e ainda estão satisfeitas? 

A resposta envolve uma série de causas, sendo a principal delas a incompetência administrativa, que passa, entre outras coisas, pela falta de capacidade e de conhecimento. 

Evidentemente, há no mercado todo tipo de administrador: os gestores sem talento para tal, os que são competentes só que não possuem o conhecimento necessário para tomar as decisões certas, os que são ótimos negociadores e não conhecem o negócio, entre outros. 

O certo é que, quanto mais informações corretas o tomador de decisão tem, melhor vai ser a qualidade das suas decisões. No transporte, o que mais se encontra é profissional que não conhece o básico, ou seja, os custos da atividade de transporte rodoviário de carga. Esta situação leva a aceitarem fretes abaixo do custo, que leva a falta de dinheiro em caixa (consequência dos prejuízos), que leva a todos os principais problemas do setor: frota velha e malcuidada, baixos salários, custos elevados, alto índice de acidentes, inadimplência etc. 

Quem está neste setor há muito tempo conhece, e até já presenciou, empresas de transporte quebrando com o depósito lotado de carga. Não há falta de carga e uma transportadora, em última análise, só fica insolvente por dois motivos: falta de carga ou frete.  

Então, se não é falta de carga… 

Lauro Valdívia é Engenheiro e Assessor Técnico da Associação Nacional do Transporte e Logística (NTC&Logística). Além de membro da Câmara Técnica de Engenharia de Tráfego, da Sinalização e da Via do DENATRAN, Professor de cursos de Gestão, Consultor de empresas e entusiasta do transporte de cargas brasileiro. 

Fonte: Frota&cia – https://www.frotacia.com.br/lauro-valdivia-explica-o-que-leva-a-quebra-das-empresas/