ISET quer quebrar a marginalização da profissão de caminhoneiro

A falta de mão de obra qualificada é um problema que assola vários setores do Brasil, mas no transporte rodoviário de carga, especialmente, a questão é latente. Uma recente publicação do ManpowerGroup citou que a escassez dessa qualificação no país (81%) passou a média global de 75%. Isso equivale à nona colocação no ranking mundial entre os piores países no assunto.

“A escassez de mão de obra qualificada no transporte rodoviário de cargas pode afetar negativamente as empresas, uma vez que a falta de profissionais capacitados, tem por consequência um aumento nos custos operacionais, atrasos nas entregas e até mesmo a acidentes nas estradas”. Comenta Valéria Melnik, diretora de RH do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas no estado do Paraná (SETCEPAR).

Não tem outro caminho, se não, o de qualificar esses profissionais. Entre algumas iniciativas no mercado, destaca-se o ISET (Instituto SETCEPAR de Educação no Transporte). Criado pela entidade de transportes do Paraná, a ideia é capacitar essa mão de obra e já “fazer a ponte” com o mercado de trabalho.

Escola sem fins lucrativos
Vivian Wisniewski, coordenadora do ISET, comenta que o projeto é uma escola sem fins lucrativos e explica o modelo de sustentação que forma cerca de 100 trabalhadores por mês. “Há cursos pagos, mas são valores sociais pra manter o projeto funcionando. Na maioria das vezes nós temos patrocínio de empresas do segmento”.

A maior parte dos cursos são operacionais, mas nos dois últimos anos o Instituto sentiu a necessidade de produzir cursos mais estratégicos, focados também na parte tecnológica do setor. Entretanto, o principal ainda é a formação de motoristas. Atualmente o ISET oferece dois cursos recorrentes e mensais, de carreta e truck, sempre com 50% de bolsa.

Um dos pontos mais interessantes é que o projeto já forma o aluno para inseri-lo direto nas empresas dos associados. A ponte entre o estudo e o mercado de trabalho é bem mais curta. “Nós temos o compromisso de que todas saem com colocação. Além disso também tem os casos onde as empresas encaminham funcionários que querem melhorar, mesmo já estando lá dentro”.

“As crianças sonhavam com caminhão”
Além do objetivo mercadológico, o ISET carrega uma veia social também. A frequência das bolsas de estudo é um reflexo disso, mas existe um trabalho para quebrar o que a Vivian chama de “marginalização da profissão”.

“A maior dificuldade do mercado é encontrar o motorista. Há 20 anos atrás as crianças sonhavam com caminhão, mas isso mudou. Eu vejo que hoje é uma profissão marginalizada. Nosso papel também é quebrar isso. Conscientizar que eles são heróis, mesmo que às vezes nem eles se vêm dessa forma.”

O mercado atual
A formação de motoristas vai continuar sendo o carro-chefe, mas o ISET se mantém atualizado com o que o mercado pede. Inovação e tecnologia, por exemplo, estão sempre em pauta. “O avanço do ESG e emissão de carbono, por exemplo. Caminhão automático já é realidade, mas já foi um ponto abordado como destaque aqui”. Cita Vivian.

Segundo ela, há uma diretoria técnica que decide os rumos do projeto, estando sempre antenado ao segmento. A decisão de qual turma vai abrir ou qual será descontinuada é sempre tomada em conselho. Porém, vale lembrar que eles também vão em compasso com a lei. Por exemplo, o Instituto abrirá um curso voltado à mudança recente da Lei dos Caminhoneiros.

Fonte: Frota&cia – https://frotacia.com.br/iset-quer-quebrar-a-marginalizacao-da-profissao-de-caminhoneiro/