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Dólar oscila e Bolsa tem forte queda com negociações comerciais dos EUA em foco

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O dólar ronda a estabilidade nesta quinta-feira (24), com o mercado atento às tratativas tarifárias dos Estados Unidos com alguns de seus principais parceiros comerciais.

O foco também está voltado ao impasse entre os norte-americanos e o governo brasileiro, conforme o fim do prazo para negociar as tarifas de importação de 50% se aproxima.

Às 12h53, a moeda tinha leve variação positiva de 0,04%, cotada a R$ 5,525. Já a Bolsa tinha forte queda de 1,06%, a 133.897 pontos.

Os movimentos nesta sessão contrastam com os da véspera, quando a expectativa por um acordo entre os EUA e a União Europeia inspirou apetite por risco entre os investidores. O clima de cautela nesta quinta deriva da falta de novidades nas tratativas -embora um eventual entendimento concreto possa reverter o quadro.

Segundo relatos de diplomatas europeus à Reuters, o acordo deve definir uma taxa de 15% sobre os produtos da UE importados para os EUA, evitando uma tarifa mais severa de 30% prevista para ser implementada a partir de 1º de agosto.

O presidente Donald Trump já havia anunciado um acordo com o Japão na terça-feira, que definiu o patamar das tarifas em 15%, e não mais 24%. Indonésia e Filipinas também conseguiram reduzir as taxas impostas sobre suas exportações.

Em relação ao Brasil, porém, o nó parece ser mais difícil de desatar. Com cerca de uma semana para o prazo final do acordo, os canais de negociação formais entre o governo brasileiro e o norte-americano continuam fechados.

O governo do Brasil enviou uma carta pedindo a negociação e não teve resposta -e segue sem previsão de ter. Com este cenário, integrantes do governo Lula começam a duvidar de uma reversão das sobretaxas antes de 1º de agosto.

Trump vinculou as ameaças tarifárias de 50% a questões políticas, como o julgamento que o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta no âmbito da trama golpista das eleições de 2022. O republicano se referiu às medidas do STF (Supremo Tribunal Federal) como uma “caça às bruxas”.

Como os pontos trazidos pelos EUA não são só comerciais, a percepção do mercado é que há menos espaço para discussões. “No momento, é difícil saber a total extensão dessa iniciativa de Trump e qual será a reação do governo brasileiro”, disse a economista Paula Magalhães, do banco Bradesco, em relatório.

“O fato de o Brasil ser uma economia relativamente fechada e fundamentos externos que indicam fraqueza do dólar ajudam a explicar por que a taxa de câmbio continua orbitando seus valores de equilíbrio.”

Em falas na quarta, Trump disse que as taxas impostas pelo seu governo não ficarão abaixo de 15%. “Teremos uma tarifa direta e simples de algo entre 15% e 50%”, disse Trump em uma cúpula de inteligência artificial realizada em Washington. “Temos 50% porque não temos nos dado muito bem com esses países.”

O comentário foi a indicação mais recente de que Trump está buscando impor tarifas de forma mais agressiva sobre países que ainda não conseguiram chegar a um acordo com Washington. O otimismo sobre a tarifa mínima de 15% é curioso nesse sentido, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Seis meses atrás, uma tarifa de 15% contra Japão e União Europeia traria aversão ao risco global. Mas Trump teve sucesso em redefinir as expectativas em relação à política comercial norte-americana, já que as ameaçavas partiram de 20% e foram até 50%. Um acordo de 15% é visto com alívio, porque afasta a probabilidade dos cenários mais pessimistas”, diz ele. “Trump foi muito vitorioso nessa redefinição de expectativas.”

Até agora, as tarifas extras já impostas por Trump derrubaram a venda de carne bovina brasileira para os americanos em 80% em menos de três meses, e a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) calcula que o agronegócio deixará de exportar US$ 5,8 bilhões aos EUA ao ano -uma queda de 48%- caso as sobretaxas de 50% entrem em vigor.

Na segunda, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a pasta está trabalhando com diversos cenários para enfrentar a possível tarifa. Segundo o ministro, contudo, a determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que o Brasil não deixe a mesa de negociação.

“Estamos preparando alternativas para apresentar ao presidente, mas punir empresas ou cidadãos americanos não está em discussão. Todo e qualquer cidadão americano será tratado com dignidade, e empresas, às vezes com relação centenária com o Brasil, serão tratadas com o mesmo respeito”, afirmou Haddad, em entrevista à rádio CBN.

Também no radar, o BCE (Banco Central Europeu) deixou sua taxa de juros inalterada nesta quinta após oito cortes em um ano.

Com a inflação de volta à meta de 2% e com a expectativa de que permaneça nesse patamar, as autoridades optaram pela pausa no afrouxamento monetário. A manutenção também deriva das incertezas quanto ao comércio com os EUA, ainda que as negociações pareçam estar na reta final.

Fonte: Jornal de Brasília