Depois de dois anos de crescimento forte e que, repetidamente, surpreendeu as expectativas para cima, o ano de 2023 deve começar a contar uma história diferente.
De um lado, o impulso da recuperação, após uma profunda depressão causada pela pandemia em 2020, se esgotou. Isso significa que as taxas mais fortes de crescimento, reforçadas pela base muito baixa, ficaram para trás – em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) do país já passou a rodar acima do nível anterior à crise sanitária.
Do outro lado, este será também o primeiro ano que sofrerá em toda a sua plenitude os impactos da subida de juros, outra herança deixada pela pandemia e pelo estrago inflacionário que ajudou a causar.
Também não ajuda o fato de que a economia global como um todo estará mais enfraquecida, puxada igualmente para baixo por uma onda generalizada de inflação seguida de aumentos de juros em todos os continentes.
“Economias centrais, como os Estados Unidos e a Europa, estão flertando com uma recessão. Há a economia chinesa também desacelerando”, diz a economista e professora do Insper Juliana Inhasz.
“Então o cenário internacional também não favorece e reforça a perspectiva de um crescimento mais baixo para o Brasil.”
Juros nas alturas
“O Banco Central deve manter os juros nos 13,75%, um patamar claramente contracionista, até pelo menos meados do ano que vem”, diz o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno.
“Como o efeito das altas de juros sobre a atividade econômica é defasado, o impacto desse aperto vai ser maior neste ano do que no ano passado, então, realmente, será um cenário de crescimento mais moderado.”
A estimativa do Mizuho é que, após crescer 3,1% em 2022, o PIB brasileiro avance 1% em 2023, número que já está na banda mais otimista das projeções. A maior parte delas fala em um avanço menor do que isso.
No Boletim Focus, por exemplo, o relatório semanal do BC com as projeções do mercado para os principais indicadores econômicos, a mediana das expectativas é de um crescimento de 0,8% neste ano.
Depois de cair 3,3% em 2020 – número já bem melhor do que a queda de até 9% que se chegou a esperar para o primeiro ano da pandemia -, o PIB brasileiro cresceu 5% em 2021.
O resultado fechado de 2022 será divulgado em 2 de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Até o terceiro trimestre, o crescimento do PIB em um ano foi de 3%, embora o resultado trimestral, uma alta de apenas 0,4%, já tenha sido lido como o primeiro grande sinal de desaceleração causada pelo peso da Selic.
Efeito defasado
Depois de despencar à mínima histórica de 2% em 2020, a Selic, a taxa básica de juros do Brasil, se viu obrigada a voltar a subir rapidamente conforme a inflação também começava a sair do controle.
Ela saltou dos 2% em que esteve até março de 2021 para os 13,75% a que chegou em agosto de 2022 e com que adentra 2023. É a maior taxa desde 2016.
Juros mais altos, além de aumentar o encargo do governo com o pagamento dos juros bilionários de sua dívida, também encarecem o crédito e inibem tanto o consumo quanto os investimentos produtivos feitos pelas empresas. Tudo isso vai limando o fôlego da economia para crescer.
Leva um tempo, porém, até que os efeitos de uma mudança nos juros percorram plenamente toda essa cadeia – a estimativa de economistas é que esse hiato seja de algo em torno dos seis meses.
É por essa razão que, embora a taxa esteja subindo desde o começo de 2021, será só em 2023 que o fardo de uma Selic de dois dígitos estará pesando plenamente sobre a economia.
Como o consenso entre economistas, hoje, é de que o Banco Central deve manter a taxa nos atuais 13,75% até pelo menos o segundo semestre, o resultado é que a atividade econômica brasileira terá que sobreviver à sombra dos juros altos ao longo de 2023 inteiro.
“Dados da indústria, serviços, comércio e construção mostram que o quarto trimestre já deve andar de lado, ficar no zero a zero”, diz o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato.
“Então esse raciocínio de que a política monetária está cumprindo seu papel faz sentido, e o PIB de 2023 vai crescer menos que o de 2022.”
A projeção inicial do banco é de um crescimento na casa de 0,5% neste ano, ao lado de um mercado de trabalho que, depois de uma veloz recuperação em 2021, deve também ficar andando de lado agora.
A taxa de desemprego, que chegou a passar dos 14% no auge na pandemia, entrou em 2022 a 11% e saiu na faixa dos 8%, nos menores níveis desde 2015.
Isso, de acordo com o IBGE, derrubou o número de pessoas sem trabalho de 13 milhões para cerca de 9 milhões ao fim do ano.
“Neste ano o desemprego ainda pode cair, mas será uma queda muito pequena, praticamente estável”, disse Honorato, do Bradesco.
“Os salários não estão subindo muito também, mas, com a inflação desacelerando, há um benefício para a renda das famílias. Então, na vida prática, 2023 terá uma redução na oferta de vagas, vai ficar mais difícil encontrar emprego, mas com uma ajuda da inflação, em especial dos alimentos, para a renda das pessoas.”
Fonte: CNN – https://www.cnnbrasil.com.br/business/efeito-total-de-juros-altos-em-2023-deve-esfriar-economia-dizem-especialistas/