Mesmo com o Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, voltando a subir os juros básicos dos Estados Unidos, os juros no Brasil subiram ainda mais e estão altos o suficiente para barrar as pressões que os ajustes na maior economia do mundo poderiam trazer para a taxa de câmbio brasileira.
Na quarta-feira (16), o Fed elevou os juros norte-americanos em 0,25 ponto, no primeiro aumento desde 2018. A taxa, que estava em zero desde o início da pandemia, se move agora para uma faixa de 0,25% a 0,50% ao ano.
Juros mais altos nos EUA ampliam a remuneração dos seus títulos, os mais seguros e cobiçados do mundo, e costumam sugar para lá o dinheiro de outros países, em especial de emergentes como o Brasil, mais arriscados. Isso tende a fazer com que o dólar se fortaleça e moedas como o real percam valor.
No Brasil, porém, os juros começaram a subir bem antes e muito mais rápido, abrindo uma margem bem folgada sobre os concorrentes e, em alguma medida, ajudando a blindar o dólar de altas extras.
Nesta mesma quarta-feira, o Banco Central (BC) elevou a taxa básica doméstica, a Selic, em 1 ponto, passando os juros de referência para 11,75%, já um dos mais altos do mundo.
Foi o nono aumento desde que a pandemia começou, o que já esticou a taxa em quase 10 pontos desde os piores momentos da crise de saúde, quando a Selic chegou a despencar a 2%.
Com a notória diferença de ritmo e de intensidade nos reajustes dos dois países, o que os economistas chamam de diferencial de juros está se ampliando, em vez de estreitar.
Atualmente, a distância entre os juros praticados pelos títulos brasileiros e pelos norte-americanos está em mais de 10 pontos, de acordo com um levantamento feito pela agência de classificação de risco Austin Rating para o CNN Brasil Business, considerados os títulos de 10 anos de cada país. São os maiores diferenciais desde 2016.
A folga larga garante que a remuneração dos títulos brasileiros esteja atraente o suficiente para evitar a fuga de capitais e impedir novos aumentos do dólar.
A projeção de economistas é que, ao menos pelos próximos meses, a taxa de câmbio não deve escapar muito dos R$ 5 em que tem rodado, podendo inclusive ensaiar momentos abaixo disso.
“A Selic deve subir ainda até 12,5% ou 13% neste ano, enquanto o Fed deve continuar subindo os juros para perto de 1,5%, no máximo 2%. É muita diferença e atrai muito capital”, disse o economista-chefe da corretora Órama, Alexandre Espírito Santo.
“Isso dá um bom conforto para o Brasil, e o real pode até se valorizar mais, com o dólar furando os R$ 5 e buscando os R$ 4,95 ou R$ 4,90 nas próximas semanas”, acrescentou.
“É como se tivéssemos uma gordura”, diz a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico. “O Brasil foi um dos primeiros a começar a subir os juros, subimos bastante, e isso nos dá agora essa vantagem tanto entre emergentes quanto países avançados.”
Dólar mais alto no segundo semestre
Segundo ela, as fortes quedas que o dólar vem registrando desde o final do ano passado, quando saiu de um pico de quase R$ 5,80 para os atuais R$ 5, já são em parte reflexo desses juros maiores.
Agora, explica, somam-se ainda fatores que também ajudam no alívio, caso do mesmo aumento de commodities, como petróleo e alimentos, que está pressionando a inflação: produtos básicos mais caros no mundo melhoram as exportações brasileiras e também ajudam a trazer mais dólares para dentro.
O período de relativa tranquilidade no câmbio, não deve sobreviver ao segundo semestre.
“No segundo semestre a tendência já deve ser de depreciação”, diz Andrea. “Teremos o cenário de eleições polarizadas, ambos candidatos devem defender políticas populistas e de mais gastos sociais, e há ainda as discussões do Orçamento (para 2023), que sempre dão um certo calor.”
As estimativas da economista são de que o dólar volte, então, a transitar entre os R$ 5,40 e R$ 5,50 na segunda metade do ano.
Fonte: CNN – https://www.cnnbrasil.com.br/business/distancia-entre-juros-do-brasil-e-dos-eua-e-a-maior-em-6-anos-e-alivia-o-dolar/