Os desafios da sucessão familiar no setor dos transportes

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A gerência e sucessão familiar é uma das características do setor de transportes no Brasil. São inúmeras empresas que nasceram “em casa” e foram passadas de geração entre pais e filhos, sobrinhos ou irmãos. O fato é que, sem deixar a profissionalização de lado, isso se manteve até os dias de hoje.

Às vezes acontece de forma contínua e natural, quando o sucessor desde cedo acompanha e aprende dentro da empresa, como foi o caso da Zorzin Logística, quando Gislaine Zorzin naturalmente foi absorvendo os ensinamentos do pai e aos poucos assumindo funções dentro da empresa. “A gente nem falava de sucessão familiar naquela época. Ele foi passando as coisas e a gente aprendendo na prática. Meu pai foi se afastando aos poucos e lá por volta de 2005 ele já não fazia mais nada no administrativo“.

Em outros casos, como na NSLOG, Carolina Resuto assumiu por necessidade. “Eu sou economista e comecei a me envolver com fontes de energia alternativa. Célula de combustível, por exemplo. A ideia não era seguir essa linha do meu pai. Entretanto, quando ele descobriu a diabetes, mudou tudo. Eu comecei a me questionar o que eu deveria fazer. ‘Eu vou esperar meu pai morrer pra eu sentar lá?’ Eu fiquei com esse medo do quanto tempo vai durar e então mudei o rumo da viagem”.

O que é bem comum é que o pai ainda continue atuando na empresa, mas de uma forma menos frequente e em outra área. Na NSLOG, Carolina comentou que a sucessão ainda nem foi consumada na íntegra. O pai ainda atua na parte de manutenção e gestão de frota, mas o administrativo geral e financeiro, por exemplo, fica toda nas mãos dela.

Gislaine, que atua ao lado do irmão Marcel, explica que o pai virou um conselheiro. Com tanto conhecimento e experiência, ele opina em assuntos importantes, ainda aparece durante a semana na empresa, mas não tem a obrigação de atuar e estar 100% cientes de todas as frentes.

Conflito de gerações
É muito difícil provar para alguém que acumula tantos anos bem sucedidos na indústria que determinada novidade pode chegar para agregar. Ainda mais porque a geração dos baby boomers (nascidos entre 1945 e 1964) são mais conservadores em relação à tecnologia.

“Quando começou a ter computadores, meu pai não queria colocar de jeito nenhum. Esse conflito de gerações é difícil, principalmente quando o assunto é atualizações em relação às tecnologias”. Comenta Gislaine Zorzin.

Carolina cita que ainda hoje tem alguns “arrança-rabos”, mas que é normal esse choque de gerações. Para ela está sendo uma sucessão de transformação. “Com 42 anos, antigamente eu tinha a ideia de revolução, mas agora vejo que é transformar. Um meio do caminho pra não se chocar muito. Eu percebi que com o meu jeito eu dava uma polarizada, mas isso não era legal pro negócio. No nosso caso, algumas filiais ainda funcionam do jeito dele, por talvez a equipe de lá já estar acostumada”.

Para André de Simone, Coordenador Nacional da COMJOVEM (Comissão de Jovens Empresários e Executivos), existem muitas diferenças entre a geração nova e a antiga de empresários no setor. “A principal delas é o acesso rápido à informação. Hoje a gente consegue ter o controle financeiro, da operação e tudo na palma da mão. Então os executivos tem uma liberdade maior no negócio”.

Ele completa citando que hoje em dia, com acesso à tantos recursos, a resposta e tomada de decisão e ação são mais rápidas. “Os jovens são muito abertos à novidade e inovação. Se tem um jovem à frente da empresa, com certeza ele vem trazendo inovação para dentro. Um jovem na liderança traz um grande diferencial nas empresas.” Completa André.

A importância da COMJOVEM
A COMJOVEM nasceu justamente em cima dessa questão da sucessão familiar. Segundo André, a ideia foi trazer maior atratividade para o assunto e ampliar a troca de ideias, networking e benchmark entre as pessoas que estão na mesma situação. A CNT (Confederação Nacional do Transporte) e o SEST Senat também ajudam construindo uma base educacional no cenário para aumentar o nível e conhecimento das empresas.

Carolina Resuto citou sua experiência como participante da COMJOVEM. “Participar do movimento e conversar com pessoas no mesmo cenário pelo qual eu estava passando, foi muito legal. Trocas reais, sem espionagem, um benchmark real. Foi muito reconfortante”

Sob o pilar de ajudar o próximo, a Comissão busca tirar a visão de concorrência a todo custo do segmento. “Tem essa mudança de entendimento de rivalidade dentro do setor. Quando as pessoas de unem para ajudar, isso cria um laço muito legal”.

Próxima geração
Uma empresa familiar é uma grande responsabilidade. Manter o legado daquilo que carrega o nome da sua família, às vezes diretamente, como o caso da Zorzin, é algo muito grande. Gislaine é a terceira geração na empresa e gostaria de dar continuidade à isso. “Seria um orgulho muito grande ter mais uma geração comandando a Zorzin”.

Entretanto, nem sempre é possível. No caso da NSLOG, Carolina tem outra visão e vislumbra novos horizontes. Ela comenta que já tem uma visão mais corporativa do negócio.

“O projeto pro ano que vem é tirar um pouco do coração de dentro da empresa, tirar um apego disso, quem sabe se não seremos parte de um todo maior. Eu estou ficando pequena pra ser uma transportadora regional. Reposicionamento de mercado é algo que eu discuto bastante aqui. Mas o meu pai não consegue materializar isso. Se acontecer com ele vivo, vai achar que nos vendemos.

“A transformação é respeitar o peso do que foi feito e entender de que forma dar continuidade sustentável. Sem ferir a cultura. Tem que ter muito respeito.” Completa a executiva“.

Fonte: Frota&cia – https://frotacia.com.br/os-desafios-da-sucessao-familiar-no-setor-dos-transportes/