O governo de São Paulo lançou a proposta de construir um novo corredor entre São Paulo e o Porto de Santos. O projeto, que ganhou o nome de “Linha Verde”, ainda é embrionário: não tem traçado definido nem avaliação de impacto ambiental ou econômico. Trata-se do pontapé inicial para uma possível nova rota logística no Estado, destinada a escoar carga e aliviar o sistema Anchieta-Imigrantes.
“O projeto surgiu devido a uma limitação sensível no transporte de contêineres ao porto de Santos. A estrutura para o escoamento de granéis tem se desenvolvido com os investimentos nas ferrovias. Mas a carga de contêineres chega principalmente pela via rodoviária, em uma pista da via Anchieta. É um gargalo importante”, afirma o secretário paulista de Logística e Transportes, João Octaviano Machado Neto.
Na última semana, o governo abriu um chamamento público para receber projetos da iniciativa privada para o novo empreendimento. Não foi definido um traçado, apenas os pontos de conexão: o Rodoanel e a margem esquerda do Porto de Santos.
A ideia de uma nova rodovia entre São Paulo e a Baixada Santista não é novidade. A discussão vem desde a gestão de Paulo Maluf no Estado, no início dos anos 1980. Em 1997, o então governador Mário Covas chegou a autorizar a licitação para a Rodovia Parelheiros-Itanhaém, entre a zona Sul da capital e o litoral. Desde então, este e outros projetos saíram e voltaram à gaveta, sem avanços.
Um dos entraves é o impacto ambiental da nova rota, que teria que atravessar áreas protegidas de Mata Atlântica. O secretário da gestão de João Doria (PSDB) reconhece que a questão é desafiadora, mas afirma que estudos preliminares indicam que a construção é viável do ponto de vista ambiental. Ele argumenta que o sistema de construção aplicado na rodovia dos Tamoios reduziu os danos e será uma referência ao novo projeto – que, diz ele, será uma “rodovia carbono zero”.
O chamamento prevê a possibilidade de o projeto ser multimodal, com rodovia e ferrovia. Ainda há dúvidas sobre a viabilidade dessa ideia, já que, para garantir a sustentação econômica de um projeto ferroviário, seria preciso fazer vagões “double stack” (no qual dois contêineres são empilhados, garantindo mais volume por viagem), o que demandaria túneis maiores, diz Machado. “Pode ser que o mercado faça os estudos e aponte que não compensa, mas quisemos tentar.”
O projeto da “Linha Verde” não tem relação direta com a construção da ponte Santos-Guarujá, outro empreendimento defendido pelo Estado – mas que encontra forte resistência do governo federal. Porém, o secretário acredita que as obras seriam complementares, pois formariam um “anel logístico”, conectando as duas margens do Porto de Santos e os dois sistemas rodoviários.
O novo corredor é um projeto para o futuro, e não para o atual mandato de Doria, destaca Machado. “Trata-de de um empreendimento muito grande e complexo. Os prazos para a realização vão além da atual gestão, é algo para o longo termo. Se tudo der certo, após a concessão, o corredor só seria concluído em um prazo de seis a oito anos”, afirma.
FONTE: Valor