FT: Custo das matérias-primas ameaça futuro da energia eólica

O aumento no custo das matérias-primas ameaça as esperanças de que a energia eólica permaneça sendo uma alternativa mais barata à gerada por combustíveis fósseis, segundo alerta do chefe da Siemens Energy. A fonte de energia renovável vai “ficar mais cara e precisa refletir a volatilidade do mercado”, disse Christian Bruch, destacando que as previsões de queda no preço da energia eólica são anteriores à crise na cadeia de suprimentos que atinge o setor.O aumento no custo das matérias-primas ameaça as esperanças de que a energia eólica permaneça sendo uma alternativa mais barata à gerada por combustíveis fósseis, segundo alerta do chefe da Siemens Energy.

A fonte de energia renovável vai “ficar mais cara e precisa refletir a volatilidade do mercado”, disse Christian Bruch, destacando que as previsões de queda no preço da energia eólica são anteriores à crise na cadeia de suprimentos que atinge o setor.

“Se o petróleo permanecer a US$ 100 [por barril], então, tudo bem, acho que isso te dá espaço de manobra suficiente”, disse Bruch. “Mas não se esqueçam de que suposição há dois anos […] era a de que a energia eólica marítima em 2030 provavelmente teria a metade do preço em comparação a 2021 ou 2020”, acrescentou. “Essa é uma lógica [financeira] que não se mantém quando seus custos com materiais dobram.”

Os preços da energia eólica vêm subindo desde 2019, afetados pelos problemas nas cadeias de suprimento e pelos custos das matérias-primas, que vêm sacudindo o setor.

A perspectiva mais sombria traçada por Bruch chega depois de a Siemens Energy ter anunciado no sábado uma oferta de 4 bilhões de euros, há muito aguardada, para comprar os 33% que ainda não detém na Siemens Gamesa, maior fabricante de turbinas eólicas marítimas do mundo.

As ações da Siemens Gamesa, que tem divulgado sucessivos alertas sobre os lucros, subiam 6% nesta segunda-feira, cotadas a 17,79 euros, pouco abaixo dos 18,05 euros oferecidos pela Siemens Energy.

A Siemens Gamesa, da mesma forma que concorrentes como a Vestas e a Nordex, tem sofrido com os fortes aumentos nos preços das terras-raras, do aço e do cobre usados nas turbinas, custos que frequentemente não consegue repassar aos clientes porque seus contratos de longo prazo foram assinados quando a cotações das commodities estavam mais baixas.

A Siemens Gamesa também tem alternado diferentes executivos-chefes para tentar lidar com problemas operacionais, como atrasos na produção e instalação de seu novo modelo de plataformas terrestres, chamado 5.x, o que obrigou a Siemens Energy a dar baixa contábil de cerca de 800 milhões de euros em sua participação.
Comprar o restante da Siemens Gamesa dará à Siemens Energy mais controle sobre a empresa em dificuldades, disse Bruch, ressaltando que levará pelo menos até meados da década para que a fabricante de turbinas comece a ter lucros constantes.

O mercado de energia eólica está em “frangalhos no momento”, disse, prevendo que poderia haver “mais consolidação na indústria”.

A Agência Internacional de Energia (AIE) fez um alerta neste mês, prevendo que a energia solar e eólica se encaminham a “perder ímpeto no próximo ano”, depois de uma fase de forte expansão, destacando que problemas de logística e na cadeia de suprimentos estão limitando o setor.

Por sua vez, Bruch enfatizou que no longo prazo “não há solução sem a [energia] eólica”.

“A questão é se vai dobrar até 2030 ou se vai quadruplicar até 2030”, disse, embora advertindo que o setor eólico precisa “encontrar um modelo de negócios que reflita, por um lado, a volatilidade da cadeia de suprimentos, e, por outro lado, permita que empresas como a nossa […] ganhem dinheiro o suficiente para também investir em pesquisa e desenvolvimento” para turbinas maiores.

Isso exigiria que os clientes da Siemens Gamessa dividissem uma parte maior do risco, segundo Bruch.

A oferta da Siemens Energy pela Siemens Gamesa representa ágio de cerca de 8% em relação à cotação de fechamento da sexta-feira. A Siemens Energia fechará o capital da Gamesa se a aquisição – subscrita integralmente pelo Bank of America e pelo JPMorgan Chase – for bem-sucedida, de acordo com a empresa.

A Siemens Energy financiará até 2,5 bilhões de euros da transação com ações e o restante com uma combinação de dinheiro do caixa e da emissão de títulos de dívida. A empresa espera concluir a transação na segunda metade do ano.

Fonte: Valor Econômico – https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/05/23/ft-custo-das-materias-primas-ameaca-futuro-da-energia-eolica.ghtml