Banco Central suaviza tom, mas não coloca corte de juro no radar, avaliam economistas

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A decisão do Banco Central (BC) por manter a taxa Selic em 13,75% foi e linha com as expectativas do mercado financeiro. Já com relação ao comunicado, a avaliação de economistas é de que a instituição coloca elementos novos que suavizaram o recado, mas ainda sem dar um horizonte para o início do ciclo de queda dos juros.

“A expectativa do BC ainda é de manter a taxa mais restritiva por um período prolongado, até a consolidação da desinflação e ancoragem das expectativas. […] O comunicado afasta qualquer chance de corte na próxima reunião em junho e, para agosto, o corte fica dependente de uma queda maior que o esperado na inflação corrente e melhora no cenário fiscal”, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.

Esta foi a primeira reunião do Comitê após a entrega do projeto de novo marco fiscal para ser analisado e votado no Congresso.

Também é a sexta vez seguida em que foi decidida a manutenção da taxa. Assim, o patamar de juros continua no maior nível desde dezembro de 2016.

Os economistas ouvidos pela CNN chamam a atenção sobre a permanência do trecho em que a instituição diz que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. No entanto, o BC qualificou este como “um cenário menos provável”.

Para Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, o trecho, somado à menção de “paciência e serenidade”, indicam que o banco permanece cauteloso e tenta frear possíveis projeções para uma queda dos juros em junho.

“São algumas pinceladas que combinam para a possibilidade de uma flexibilização em agosto e setembro. […] São alterações reconhecendo o que aconteceu no período entre as reuniões e que não quer que o mercado entre com [projeções de] queda para junho”, diz Nogueira.

Para os economistas da Órama Investimentos, o tom do comunicado, apesar de ligeiramente mais suave que os anteriores, é ainda duro e afasta ainda mais a possibilidade que chegou a ser aventada por parte do mercado e do governo de que os juros poderiam já começar a cair em junho.

“Sem fugir do roteiro habitual, o Copom salientou no comunicado os elementos perturbadores existentes, domésticos e externos, apesar de reconhecer que a apresentação do novo arcabouço fiscal possui méritos em reduzir parte das incertezas”, diz a corretora em relatório.

“De concreto, contudo, não percebemos no documento não percebemos no documento ‘pistas’ reais de que a queda da taxa esteja próxima”, acrescentam.

Com relação ao arcabouço fiscal, a análise é de que o comitê do banco enxergou com bons olhos a apresentação da proposta, porém, deve aguardar a tramitação.

“O comunicado apontou que apresentação do arcabouço reduziu parte da incerteza sobre a política fiscal, mas não mencionou que a eliminação do “risco de cauda” de uma trajetória explosiva da relação dívida/PIB poderia representar um risco baixista”, diz Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren.

Expectativas
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco enxerga que uma queda deve ocorrer em setembro e menciona três pontos que também podem gerar impactos em futuras decisões do Comitê.

O primeiro deles está relacionado com a tramitação do novo marco fiscal, “se o Congresso vai ou não endurecer o projeto, por exemplo, colocando uma punição para o descumprimento das regras”.

Além disso, Honorato cita a indicação do novo nome para a presidência do BC. “Esses nomes podem importar para as expectativas. E, por último, a própria definição das metas de inflação”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito críticas à meta de inflação, dizendo que uma mudança deveria ser feita.

“Olhando a dinâmica de preços e o que acontece no mundo hoje, me parece que a eventual manutenção das metas [de inflação] ajudam a antecipar o corte de juros, qualquer que seja o cenário. A manutenção pode criar um ciclo positivo no câmbio e nas expectativas, por exemplo”, afirma Honorato.

Atualmente, a projeção média do mercado, de acordo com o relatório semanal Focus, do BC, é que a Selic chegue ao fim de 2023 aos 12,5%, numa ligeira redução em relação ao projetado há duas semanas (12,75%), mas ainda acima do que no começo do ano, quando a estimativa geral estava em 12,25%.

É também um nível bem pouco abaixo dos 13,75% atuais.

No comunicado, o Copom projeta que a inflação, em seu cenário de referência, situa-se em 5,8% em 2023 e 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,8% em 2023 e 5,2% em 2024.

Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, o banco diz que as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023 e 2,9% para 2024.

Impactos no PIB
O governo federal avalia que se o ciclo de queda de juros não tiver início em junho deste ano a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2024, hoje em 2,3%, pode ser reduzida.

O Palácio do Planalto já não considerava provável uma diminuição da taxa de juros na reunião de maio do Copom (Comitê de Política Monetária), que hoje está em 13,75% ao ano, mas avaliava como possível o início de um ciclo de queda a partir de junho.

Em conversas com a CNN, integrantes da equipe econômica lembram que a redução da taxa Selic tem efeitos no mercado de crédito em um horizonte de 12 a 18 meses. Ou seja, uma diminuição em junho só seria sentida de forma efetiva no segundo semestre do próximo ano.

Decisão nos EUA
Mais cedo o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), anunciou o aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros de país, que agora está na faixa entre 5% e 5,25% ao ano. Essa é a décima ata de juros no país desde março de 2022.

Em sua última decisão, a taxa também subiu 0,25 ponto percentual e estava, desde então, no intervalo de 4,75% a 5%.

Fonte: CNN – https://www.cnnbrasil.com.br/economia/banco-central-suaviza-tom-mas-nao-coloca-corte-de-juro-no-radar-dizem-economistas/