O preço do barril do petróleo tipo brent registrou queda de 9,45% nesta terça-feira (5). Se a notícia poderia levar a crer em uma queda no preço dos combustíveis no Brasil, segundo economistas ouvidos pela CNN, entretanto, as altas seguidas do dólar ainda não permitem que o recuo no preço da commodity seja sentido no mercado interno.
Isso porque, nos últimos trinta dias, a moeda estadunidense, padrão para negociações do óleo, registra um aumento de 12,55% em relação ao real.
Um levantamento produzido pelo professor Alberto Ajzental, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra a escalada no preço do petróleo tipo brent em real. No mês de junho, o preço do barril chegou a R$ 573, o maior desde o início da pandemia. Há dois anos, em junho de 2020, o petróleo custava em média R$ 224.
O economista explica que dois fatores impactam o preço do dólar e impedem que os brasileiros sintam os benefícios da baixa no petróleo: aumento de taxa de juros nos Estados Unidos e a situação político-econômica interna do Brasil.
“O mundo está em um cenário de muita inflação e todos os Bancos Centrais estão subindo a taxa de juros. Nos Estados Unidos, a subida dos juros fortalece o dólar. Outro problema é que o real também segue desvalorizado. A gente tem uma situação política muito delicada e vai começar o processo eleitoral”, afirma Ajzental.
O professor aponta ainda que a situação fiscal brasileira pode trazer problemas futuros. Ajzental cita a chamada “PEC Kamikaze”, que libera recursos para criação de auxílios financeiros para determinados grupos da população e setores econômicos.
“Esse projeto vai liberar R$ 41 bilhões de um orçamento já apertado. É muito malvisto, e o Brasil não se mostra sério, estável. Isso influencia o câmbio e desvaloriza a moeda”, completa.
Apesar da queda no preço esta semana, o cenário do petróleo mundialmente não deve ser de estabilidade. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, explica que o recuo mais acentuado registrado nesta terça-feira (05) é uma resposta do mercado ao sinal de uma recessão econômica, que provoca desvalorização de commodities.
“Alta de juros provoca recessão e isso mexe com preço do barril, mas o petróleo não deve continuar caindo. Existe uma possibilidade de que a Rússia reduza a produção de petróleo e gás para pressionar os países do Ocidente. Isso faz com que a oferta do produto seja menor que a demand, e provoque um aumento no valor do brent”, explica Pires.
As quedas mais recentes no preço do barril do petróleo afetaram inclusive as ações de grandes empresas do setor. Nesta terça-feira, das cinco ações com maiores baixas na Ibovespa, quatro eram de petroleiras.
- 3R Petroleum (RRRP3) -7,44%;
- PetroRio (PRIO3) -7,11%;
- Petrobras (PETR3) -4,27%;
- Petrobras (PETR4) -3,81%;
- SLC Agrícola (SLCE3) -3,15%
Ainda segundo Adriano Pires, ao mesmo tempo que o petróleo poderia ajudar a diminuir a defasagem dos combustíveis no Brasil, em relação ao mercado internacional, a alta do câmbio é superior à queda da commodity.
De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), nesta terça-feira, a defasagem média da gasolina no Brasil estava em R$ 0,28, ou 6%, enquanto o diesel ficou defasado em 4%, o que representa R$ 0,21.
Fonte: CNN – https://www.cnnbrasil.com.br/business/apesar-de-queda-do-petroleo-alta-do-cambio-pressiona-precos-dos-combustiveis-no-brasil/