Mais de 6 mil pessoas morreram em mais de 70 acidentes em 2024 nas estradas federais.
O número de mortes e acidentes em rodovias federais cresceu pelo quarto ano consecutivo no país. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revelam que, em 2024, foram registrados 73.121 acidentes, resultando em 84.489 feridos e 6.160 mortos (média de 16 óbitos diários). Os números representam um aumento de 10% no número de mortes e de 8% em acidentes e feridos.
Entre 2014 e 2021, o Brasil vinha registrando uma sequência na redução de acidentes e óbitos em rodovias federais. Segundo Adalgisa Lopes, psicóloga especialista em trânsito e presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG), as estatísticas expõem a fragilidade do sistema atual de segurança viária e evidenciam os efeitos adversos de políticas que afrouxaram o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), tais como a ampliação do prazo para a renovação da CNH; o aumento do limite de pontuação das multas; eliminação da fiscalização de segurança nas rodovias federais. “A partir de 2021, registramos, ano a ano, aumento na violência viária. Isso está diretamente ligado a esse afrouxamento das regras, mas também à deterioração da saúde mental do brasileiro”, comenta
De acordo com a análise das causas de acidentes de 2024, a desatenção foi responsável por 42% das ocorrências, somando 28.522 acidentes causados por reação tardia do condutor (10.912); ausência de reação do condutor (10.658) e acessar a via sem observar a presença dos outros veículos (6.952).
“O ato de dirigir exige atenção constante e fatores como o uso excessivo de celulares têm exacerbado a desatenção no trânsito. Nesse cenário, ampliar a validade da CNH é um erro porque a falta de avaliação deixa de detectar condições que estão totalmente relacionadas ao aumento do risco de acidentes”, explica Adalgisa.
Para Giovanna Varoni, psicóloga especialista em trânsito e diretora da ACTRANS-MG, a vida atribulada e cada vez mais agitada afeta significativamente a atenção e a tomada de decisões ao volante. “A fadiga e estresse também podem comprometer o tempo de reação dos motoristas“, analisa.
Fatores como imprudência, excesso de velocidade e consumo de álcool estão entre as principais causas de acidentes. “Sabemos que 90% das causas de acidentes estão relacionadas a fatores humanos. Seja por desatenção ou imprudência, nossas políticas públicas ainda não consideram a saúde como uma prioridade na definição de ações para a segurança viária. Esse é o erro que condena o Brasil a não reduzir as mortes nas ruas e estradas”, finaliza Adalgisa