Em um encontro que colocou o Brasil no centro do debate sobre rodovias do futuro, o Diretor-Geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Guilherme Theo Sampaio, participou, nesta segunda-feira (2/12), às 11h, em São Paulo, do painel “Inovação e Tecnologia nas Rodovias”, realizado no BTG Pactual Advisors. O debate reuniu lideranças do setor e especialistas em conectividade e infraestrutura, em uma conversa mediada pelo jornalista Rafael Balago, com a participação de Alexandre Dal Forno, diretor de IoT & 5G da TIM Brasil, e Eduardo Camargo, presidente da Motiva Rodovia (antiga CCR Rodovias).
Na ocasião, a ANTT demonstrou como a transformação digital das concessões já está em curso e de que forma ela muda, de maneira concreta, a rotina de quem circula pelas rodovias federais, promovendo mais segurança, menos congestionamentos, fiscalização mais eficiente, respostas mais rápidas a incidentes e um modelo mais justo de cobrança pelo uso das rodovias.
Um dos pilares dessa mudança é a conectividade. Em abril de 2025, a ANTT autorizou a elaboração do projeto executivo e do orçamento para a inclusão de infraestrutura digital em 29 contratos de concessão, abrangendo 14.912 quilômetros de rodovias que originalmente não contavam com esse recurso. Com isso, somados aos novos contratos que já preveem a medida, o país passa a contar com mais de 15,8 mil quilômetros de rodovias conectadas — a base essencial para viabilizar todos os demais sistemas inteligentes em implantação. Na prática, essa estrutura torna possível o funcionamento integrado de sensores, câmeras, sistemas de cobrança eletrônica, painéis de informação e comunicação em tempo real com a ANTT.
Outra inovação destacada no painel foi o avanço do sistema Free Flow, que permite a cobrança automática sem a necessidade de praças físicas de pedágio. Nesse modelo, o veículo passa sob pórticos eletrônicos e a tarifa é registrada de forma automática, eliminando filas, reduzindo o tempo de viagem e diminuindo emissões de poluentes causadas por veículos parados ou em baixa velocidade. A ANTT já consolidou uma trilha regulatória segura para a migração das praças tradicionais para esse modelo em escala nacional. Atualmente, sete pórticos estão em operação e outros vinte devem ser implantados até 2026, totalizando 27 equipamentos em funcionamento. Toda a decisão sobre implantação passa por estudos de vantajosidade e é formalizada por meio de termos aditivos, garantindo segurança jurídica para usuários e investidores.
A pesagem inteligente de veículos em movimento, conhecida como HS-WIM, também ganha espaço definitivo nos contratos. Após a validação técnica no Sandbox de Pesagem da ANTT, o modelo será incorporado em substituição às balanças convencionais que ainda não foram construídas. O sistema permite a pesagem enquanto o veículo trafega em velocidade normal, com apoio de câmeras de leitura de placas e transmissão de dados em tempo real para a Agência. Isso torna a fiscalização mais eficiente, contínua e segura, reduz o risco de evasão e contribui diretamente para preservar o pavimento e evitar acidentes provocados por excesso de carga.
A prevenção de acidentes foi outro ponto central do debate. Os novos contratos passam a exigir sistemas de Detecção Automática de Incidentes (DAI), com uso de inteligência artificial, especialmente em trechos críticos. A tecnologia identifica situações como veículos parados na pista, tráfego na contramão, objetos soltos e redução brusca de velocidade, enviando alertas imediatos aos centros de controle das concessionárias e à ANTT. Ao permitir uma resposta mais rápida das equipes operacionais, essa solução tem potencial direto de salvar vidas.
O uso de câmeras inteligentes também deixa de ser apenas um complemento e passa a integrar o núcleo da operação rodoviária. Os contratos tornam obrigatória a instalação de CFTV com cobertura de até 70% do trecho concedido, incluindo pórticos, bases operacionais, unidades de atendimento ao usuário e pontos estratégicos, com monitoramento remoto contínuo. As imagens e registros passam a ser rastreáveis, auditáveis e integrados aos sistemas nacionais da ANTT, o que aumenta a transparência e reforça a capacidade de fiscalização.
Além disso, os novos contratos incorporam um verdadeiro ecossistema digital, com painéis de mensagem variável, sensores ambientais e geotécnicos, redes de comunicação e centros inteligentes de operação. No caso da BR-381/MG, por exemplo, as exigências tecnológicas são ainda maiores devido ao perfil de risco do trecho, incluindo monitoramento climático e de estabilidade do terreno, ampliando a segurança em pontos críticos.
A pauta da inovação é reforçada pela Resolução ANTT nº 5.999/2022, que institui o uso do ambiente regulatório experimental, o chamado sandbox. A Agência já acumula experiências concretas, como o Free Flow na BR-101/RJ, o sistema de pesagem em alta velocidade, novos modelos de transferência de controle de concessões e projetos voltados à inspeção de tráfego, descarbonização e segurança. Em novembro de 2025, foi aprovado um novo processo seletivo para testar soluções inovadoras aplicadas à fiscalização e à eficiência operacional nas rodovias federais.
Para o diretor-geral Guilherme Sampaio, a transformação digital das rodovias não é apenas uma modernização tecnológica, mas uma mudança de cultura na forma de planejar, operar e cuidar das estradas brasileiras. Ao integrar conectividade, inteligência artificial e inovação regulatória, a ANTT consolida um modelo que aproxima o Brasil das melhores práticas internacionais e, ao mesmo tempo, responde a um objetivo essencial: proteger vidas, garantir eficiência no transporte e oferecer serviços cada vez melhores ao cidadão.
Fonte: ANTT
