A segurança no transporte exige responsabilidade compartilhada e atuação integrada entre o poder público e o setor produtivo, afirmou o diretor de Relações Institucionais da CNT, Valter Souza, ao defender que apenas a cooperação será capaz de enfrentar o roubo e o furto de cargas no país. A declaração marcou a abertura do 1º Encontro da Rede Nacional de Enfrentamento ao Roubo e Furto de Carga, realizado nesta terça-feira (16), na sede da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em Brasília.
“O crime organizado hoje figura como um dos maiores fatores de impacto na gestão das empresas de transporte, e o roubo de cargas está entre os reflexos mais graves dessa realidade. Este desafio da segurança no transporte exige responsabilidade compartilhada, visão de futuro e ação coordenada entre o setor produtivo e o poder público”, disse.
Ao apresentar o posicionamento institucional da CNT, Valter Souza destacou que a segurança pública no transporte está no centro da agenda do Sistema Transporte e figura entre as maiores preocupações do setor. Ele lembrou que o crime organizado aparece como um dos principais riscos à atividade transportadora, conforme apontado pelo estudo Análise de Grandes Riscos no Setor de Transporte, da CNT.
O diretor ressaltou que, apesar da redução de 13% nas ocorrências de roubo de cargas em 2024, com pouco mais de 10 mil registros, o cenário segue preocupante. “Somente no primeiro trimestre de 2025, já foram mais de 2,2 mil roubos, gerando prejuízos bilionários, afetando a competitividade das empresas e comprometendo a segurança dos trabalhadores”, disse Valter Souza. Segundo ele, o impacto do crime vai além das perdas diretas e interfere no ambiente de negócios e na eficiência logística do país.
Valter Souza também chamou atenção para a necessidade de ampliar o olhar sobre o problema, que não se restringe ao transporte rodoviário, citando o transporte de valores, o modal aquaviário, especialmente na região Norte, e a apropriação indébita de veículos locados que são utilizados em cadeias criminosas. Para o diretor, esse cenário demonstra que o tema vai muito além do ambiente empresarial. “É uma questão nacional, que envolve segurança pública, desenvolvimento logístico e a integridade das cadeias produtivas”, reforçou.
Na abertura do encontro, o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, destacou que a segurança pública é dever do Estado, mas também responsabilidade de toda a sociedade. “Por isso, precisamos da colaboração de todos os setores para enfrentar a criminalidade. Quando unimos forças, a resposta ao crime se torna mais eficaz e abrangente”, afirmou.
Sarrubbo enfatizou que a criação da Rede Nacional de Enfrentamento ao Roubo e Furto de Carga representa um avanço importante para ampliar a cooperação entre a União, os Estados e as forças de segurança. Ele ressaltou ainda que o trabalho em rede tem se consolidado como um dos instrumentos mais eficazes no enfrentamento ao crime organizado.
Segundo o secretário, a integração institucional é fundamental para reduzir gradualmente os índices criminais e a sensação de insegurança, além de contribuir para a redução de custos logísticos e para a construção de um ambiente mais favorável ao desenvolvimento econômico. “A sensação de insegurança só muda de fato quando conseguimos reduzir efetivamente os índices de criminalidade, e isso só é possível com integração e trabalho conjunto”, completou.
Além do posicionamento institucional, o encontro reuniu representantes da Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência, da Polícia Rodoviária Federal e das polícias civis dos Estados, totalizando 19 unidades federativas presentes, que destacaram a importância da troca de informações, do uso de inteligência e da aproximação com a iniciativa privada para o aprimoramento das políticas públicas de segurança voltadas ao transporte.
Dados complementares reforçam a dimensão do desafio. Em 2024, os prejuízos causados pelos roubos de carga chegaram a R$ 1,2 bilhão, segundo dados da NTC&Logística, mesmo com a queda no número de ocorrências, reflexo do alto valor agregado das mercadorias visadas. O Sudeste concentrou 87% dos casos, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro. O setor também tem ampliado investimentos em tecnologias de rastreamento, monitoramento e seguros especializados.
Nesse contexto, iniciativas como o Programa Transporte Seguro, realizado pelo SEST SENAT em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública e a OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), que já soma mais de 21 mil matrículas em cursos gratuitos, reforçam o compromisso do Sistema Transporte com a prevenção, a qualificação profissional e a construção de soluções conjuntas para fortalecer a segurança no país.
A programação do 1º Encontro da Rede Nacional de Enfrentamento ao Roubo e Furto de Carga continua nesta quarta-feira, dia 17, com a participação de representantes governamentais e das forças de segurança pública.
Integração entre modais e setores
Durante painel promovido pela CNT, representantes do transporte fluvial, da locação de veículos e do transporte de valores destacaram que o enfrentamento ao roubo e furto de cargas exige uma abordagem integrada, capaz de considerar as especificidades de cada segmento e região do país. A discussão reforçou que o crime organizado atua de forma transversal sobre diferentes cadeias logísticas, o que demanda coordenação entre forças de segurança, poder público e iniciativa privada para respostas mais eficazes.
O vice-presidente da Fetramaz (Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de Cargas da Amazônia), Daniel Bertolini, alertou para a gravidade da pirataria fluvial na região amazônica, especialmente no transporte de combustíveis e de produtos agrícolas. Segundo ele, os ataques a comboios fluviais geram prejuízos expressivos e expõem as operações a riscos constantes. “É um problema que não acaba, ele migra”, afirmou, ao destacar que a atuação do crime organizado se desloca conforme o reforço da fiscalização em determinados pontos das hidrovias.
Já a presidente executiva da Anav (Associação Nacional de Empresas de Aluguel de Veículos e Gestão de Frotas), Roberta Marchesi, e a presidente executiva da ABTV (Associação Brasileira de Transporte de Valores), Daniele Capobiango, ressaltaram que o setor privado tem ampliado investimentos em inteligência, tecnologia e prevenção para proteger ativos e colaborar com as autoridades. As representantes destacaram o uso de sistemas antifraude, monitoramento em tempo real e protocolos rigorosos de segurança, além da importância da troca de informações com as forças policiais como estratégia para mitigar riscos e fortalecer o enfrentamento à criminalidade.
Fonte: CNT
