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Entre desafios estruturais e avanços regulatórios, SINDIPESA aponta caminhos para um 2026 mais seguro e competitivo

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Por Júlio Eduardo Simões, Presidente do SINDIPESA

O ano de 2025 trouxe um dos cenários mais desafiadores dos últimos tempos para o transporte e a movimentação de cargas pesadas e excepcionais. A retração já prevista, motivada sobretudo pela queda no volume de projetos eólicos, historicamente fundamentais para impulsionar a demanda por equipamentos de grande porte, acabou se intensificando com a entrada massiva de máquinas usadas e equipamentos chineses no mercado. Esse movimento pressionou a competitividade interna, reduziu margens e criou distorções que afetaram diretamente a sustentabilidade das empresas do setor.

No caso do transporte de cargas excepcionais, os desafios ganharam ainda mais complexidade após o colapso da Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, na BR-226, em dezembro de 2024. O episódio, além de expor a fragilidade da infraestrutura nacional, gerou uma série de restrições impostas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) ao Peso Bruto Total Combinado (PBTC) em diversas Obras de Arte Especiais (OAEs). A partir daí, todas as etapas das operações foram impactadas, desde a definição das rotas e elaboração de projetos até a análise e emissão das Autorizações Especiais de Trânsito (AETs).

Com a ampliação da exigência de Estudos de Viabilidade Estrutural (EVE), inclusive em situações anteriormente dispensadas pela Resolução DNIT 11/2022, as empresas enfrentaram aumento significativo de custos e prazos. Em muitos casos, os EVEs concluíram pela impossibilidade de transposição das OAEs, forçando a busca por rotas alternativas que, por vezes, também eram inviáveis devido às condições estruturais das obras ou à inexistência de trajetos adequados. Esse cenário reforça uma realidade crítica: grande parte das OAEs brasileiras ainda se encontra em estado de conservação insuficiente, comprometendo tanto as cargas excepcionais quanto a segurança geral do tráfego rodoviário.

Paralelamente a essas pressões, o setor convive com a escassez de mão de obra especializada, um desafio estrutural que se agrava ano a ano. O envelhecimento dos profissionais e a pouca atratividade da carreira para as novas gerações colocam em risco a continuidade operacional de atividades que exigem formação técnica robusta, experiência prática e tomada de decisão precisa. A necessidade de atrair, formar e qualificar novos talentos tornou-se urgente para garantir o futuro das operações de içamento e transporte pesado.

Diante desse cenário, a atuação institucional do Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais (SINDIPESA) ganhou ainda mais relevância em 2025. No campo regulatório, a maior conquista do ano foi a aprovação do Projeto de Lei do ISS, uma pauta prioritária do setor e que demandou forte mobilização da entidade em Brasília, em parceria com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e a Associação Nacional das Empresas de Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). A aprovação do texto trouxe mais segurança jurídica e previsibilidade às empresas, fortalecendo um ambiente de negócios mais estável e orientado ao crescimento.

Outro marco importante foi a publicação da Portaria PR/DER-080/2025, desenvolvida pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (DER/SP). A norma estabeleceu critérios técnicos detalhados para a circulação de guindastes AT (All Terrain) de 7 e 8 eixos em Obras de Arte Especiais. Os dados coletados permitiram ao DER calibrar coeficientes de segurança de maneira precisa, resultando em um normativo equilibrado, tecnicamente embasado e potencialmente aplicável em outros estados.

Também tivemos avanço referente às escoltas credenciadas. O pleito apresentado pelo SINDIPESA em 2024 ao DNIT, solicitando ajustes na Resolução 11/2022, teve em 2025 um avanço decisivo. A Polícia Rodoviária Federal emitiu parecer técnico favorável às alterações, reconhecendo a viabilidade do novo modelo, desde que ajustado o número de escoltas para situações de maior risco. Com esse aval, o tema retornou ao DNIT para elaboração da redação final da norma, um progresso significativo rumo a processos mais eficientes, sem comprometer a segurança viária.

No âmbito interno, 2025 consolidou os Grupos de Trabalho do SINDIPESA como espaços essenciais de construção coletiva e maturidade técnica. Os GTs de Manutenção, RH, Saúde e Segurança, Meio Ambiente e Operações se tornaram fóruns qualificados de troca de experiências, nivelamento de conhecimento e desenvolvimento conjunto de soluções. Esse ambiente colaborativo entre empresas associadas, muitas vezes concorrentes, evidencia o valor da representatividade coletiva e o impacto positivo da governança institucional.

Para 2026, o SINDIPESA seguirá orientado por quatro pilares centrais: fortalecimento da representatividade, revisão normativa contínua, qualificação técnica e combate à concorrência desleal. Pretendemos ampliar o número de empresas associadas e intensificar as visitas institucionais, reforçando laços e ouvindo de perto as demandas regionais. O canal de denúncias disponível no site continuará sendo aprimorado como ferramenta de controle e proteção à competitividade saudável do setor.

A formação profissional permanecerá como prioridade estratégica, com novas parcerias e iniciativas voltadas à capacitação de operadores, riggers, técnicos e demais profissionais envolvidos em içamento e movimentação de cargas. O cenário de 2026, porém, exigirá atenção adicional a tendências já em curso: a adaptação à Reforma Tributária, que demandará revisão de contratos, atualização de sistemas e investimentos em compliance; o fortalecimento de protocolos de segurança e averbação de seguros; a pressão crescente decorrente da escassez de motoristas e operadores; e a expansão da digitalização e automação nas operações.

Em meio a esse cenário complexo e dinâmico, deixo uma mensagem fundamental: a força do SINDIPESA depende da união e da participação ativa das empresas. A representatividade só se materializa quando é construída coletivamente. Os desafios que se apresentam são relevantes, mas as oportunidades também são significativas. Juntos, temos condições de avançar, fortalecer o setor e garantir operações mais seguras, modernas e competitivas para um país que depende diariamente da movimentação de cargas pesadas e excepcionais para crescer.

Fonte: Crane Brasil