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Adeus às curvas: nova Serra das Araras promete fim do trecho mais perigoso

  • Categoria do post:Infraestrutura

Metade do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro percorre a Rodovia Presidente Dutra (BR-116), que liga as duas maiores economias do país. A despeito de sua importância, as curvas sinuosas de um trecho de oito quilômetros da Serra das Araras, entre as cidades fluminenses de Piraí e Paracambi, no sentido São Paulo-Rio de Janeiro, dão frio na espinha. Mas esse desenho tortuoso, que ainda segue o traçado original, de 1928, está com os dias contados. Metade das obras, iniciadas em abril do ano passado, foi considerada concluída neste mês de outubro — e agora a concessionária espera encerrar totalmente os trabalhos em 2027, dois anos antes do previsto em contrato.

No projeto da nova Serra das Araras, 24 viadutos serão erguidos sobre o trajeto da atual pista de subida (sentido São Paulo). Sobre eles, quatro faixas em cada sentido (hoje são apenas duas) prometem diminuir o tempo de viagem de carros, ônibus e caminhões, com traçado mais sutil. Oito deles serão entregues no primeiro trimestre do ano que vem — provavelmente em fevereiro — e passarão a receber o fluxo da pista de subida.

A explicação é de Virgilius Morais, gerente de Engenharia e Obras da concessionária responsável pelo trecho, a CCR RioSP, uma empresa Motiva:

— A gente corrige o traçado (em relação ao original). É uma condição muito mais favorável para a segurança, com menos acidentes. É uma obra emblemática, em um gargalo do país. É um bem para a sociedade, melhorar a vida das pessoas através da mobilidade.

Supercargas

Ciceroneando a equipe do GLOBO na última sexta-feira, Virgilius começou a visita por um canteiro de obras — onde todos os funcionários são equipados com colete fluorescente, capacete e óculos, além de botas — em Seropédica, onde começa o trecho sob responsabilidade da CCR RioSP.

Por lá, 450 vigas estão sendo fabricadas para serem levadas aos viadutos: 102 já foram instaladas, de um total de 210 produzidas. Essas estruturas podem chegar a 41,8 metros de comprimento (tamanho equivalente a dez carros enfileirados), como as do viaduto número 6, um dos que serão entregues no ano que vem, primeira parada da visita. Após serem erguidas por guindastes, treliças (estruturas amarelas, como as da foto ao lado) as arrastam até a posição correta.

Por conta do tamanho, essas vigas precisam de operação especial, com fechamento do trânsito momentaneamente. As supercargas serão justamente as mais beneficiadas pela duplicação das pistas: futuramente, será possível manter o fluxo de veículos apesar da passagem dessas peças gigantes, o que não ocorre atualmente. Quando carretas desse porte precisam descer a serra, elas enfrentam a contramão da pista de subida (com menos curvas), o que interdita o trânsito.

A próxima parada acontece no viaduto 8, o último a ficar pronto para a entrega de fevereiro. Já com as vigas instaladas, falta ainda o içamento de lajes pré-moldadas, também produzidas no terreno de Seropédica, para dar à estrutura a cara de viaduto. Passando sobre a pista atual, o local ajuda a explicar a melhoria feita, em substituição às curvas.

Sons dos motores de tratores e escavadoras contrastam com o do fluxo intenso de veículos pela serra. Ao longe, uma fumaça saindo do meio das árvores não indica a proximidade de uma churrascaria ou outro restaurante. Virgilius Morais explica que, na verdade, são perfurações para a instalação de uma estaca-raiz (de um total de 2,2 mil delas).

Para abrir espaço às novas pistas, morros estão sendo “cortados”. Depois de remover a parte de terra com máquinas, rochas são implodidas — e tudo é reaproveitado para aterrar áreas durante a obra.

De segunda a quinta-feira, das 13h às 15h, o sentido São Paulo da Serra das Araras é interditado para as detonações. De um total previsto de 600 mil metros cúbicos de rocha a ser retirado, 370 mil já foram removidos do caminho: o material é capaz de encher mais de 24 mil caçambas de caminhão, que percorrem a Serra das Araras através de uma pista de serviço, instalada à esquerda da atual pista de subida, o que acelera o escoamento de materiais. São 2,5 mil operários, divididos em dois turnos, os responsáveis por tirar o projeto do papel.

— Em outubro, chegamos a 18 meses de obras e à marca expressiva de 50% do avanço físico. Então, temos a expectativa de, no primeiro trimestre de 2027, ter as duas pistas entregues — completa Virgilius.

Mudança de uso

Quando tudo estiver pronto, a atual pista de subida deixará de existir, enquanto a pista de descida de hoje, cheia de curvas, e que não recebe nenhuma dessas intervenções, ficará dedicada a moradores locais. Em caso de problemas na nova serra, a concessionária pode usá-la como via de contingência para o tráfego.

Nas pistas novas, o benefício também será o aumento da velocidade máxima permitida, de 40 km/h para 80 km/h. Com custo estimado de R$ 1,5 bilhão, as obras incluem acostamento ao longo do percurso, importante para evitar engarrafamentos como o presenciado pela equipe do GLOBO na última sexta-feira, quando o enguiço de uma carreta no quilômetro 229 parou o trânsito, inviabilizando o fluxo em uma das faixas.

Também estão previstas duas áreas de escape — para veículos com problemas nos freios — e três passarelas, que atenderão moradores das vilas Cruzeiro, Cristã e Caiçara, instaladas ao longo da serra.

A Serra das Araras supera um desnível de 400 metros, equivalente à altura do Pão de Açúcar, e tem 30% do seu tráfego composto por veículos pesados. São transportados produtos químicos, minérios e carne, entre outros: um total de 43,96 toneladas de carga anualmente, segundo dado divulgado pelo Ministério dos Transportes no ano passado.

Fonte: O Globo