Uma pesquisa inédita realizada pela revista Transporte Moderno revelou que o setor de transporte de cargas no Brasil ainda convive com entraves estruturais, apesar dos avanços em tecnologia e digitalização. Entre os principais problemas estão a infraestrutura deficiente, os altos custos logísticos e a forte dependência do modal rodoviário, que concentra a maior parte das operações.
O levantamento, que ouviu cerca de 50 embarcadores e operadores logísticos de diferentes segmentos, confirma a predominância do modal rodoviário. Pela sua capilaridade e oferta, ele segue como o mais utilizado, mesmo diante da disponibilidade de alternativas.
No entanto, essa concentração expõe gargalos estruturais. A falta de conservação das estradas, os congestionamentos, o preço do diesel e a ausência de integração com outros modais elevam os custos e reduzem a competitividade das empresas brasileiras frente ao mercado global.
Custo do frete e tributação complexa travam eficiência
Os entrevistados apontaram o frete caro como o maior obstáculo para a operação logística, seguido pela infraestrutura deficiente e pela complexidade tributária. Para os especialistas, esses fatores combinados reduzem a competitividade e afastam o Brasil de padrões globais de eficiência.
Além disso, os participantes destacaram a burocracia, os altos impostos e a falta de mecanismos de transparência como barreiras adicionais.
Transformação digital e falta de mão de obra
Apesar das dificuldades, a pesquisa mostra sinais claros de avanço na transformação digital do setor. Quase 85% das empresas já utilizam soluções tecnológicas de gestão logística, como rastreamento em tempo real, roteirização inteligente e análise de dados para tomada de decisão.
Entretanto, esse movimento esbarra em outro desafio: a carência de mão de obra qualificada. Mais de 80% dos respondentes afirmaram ter dificuldade em contratar profissionais especializados em transporte e logística, o que pode gerar um “apagão de talentos” e comprometer a capacidade de absorção de novas tecnologias.
Prioridades: infraestrutura, multimodalidade e inovação
Entre as medidas mais urgentes para aumentar a eficiência logística, os entrevistados convergiram em três pontos centrais: modernização da infraestrutura rodoviária, incentivo ao uso de outros modais — especialmente ferroviário e cabotagem — e maior digitalização dos processos logísticos.
Essas ações, se implementadas em conjunto, podem reduzir custos, ampliar a resiliência da cadeia de suprimentos e transformar os gargalos atuais em oportunidades de inovação e sustentabilidade.
Urgência e oportunidade
O retrato traçado pela pesquisa revela um paradoxo: de um lado, o setor ainda convive com entraves históricos; de outro, começa a se modernizar e investir em soluções digitais. O desafio está em transformar a insatisfação com infraestrutura e tributação em pressão por mudanças estruturais, ao mesmo tempo em que empresas avançam em eficiência operacional.
Se bem aproveitada, essa transição pode reposicionar o Brasil no cenário global, transformando desafios em oportunidades e preparando o setor para um futuro mais competitivo e sustentável.
Fonte: Transporte Moderno